terça-feira, 28 de julho de 2009
Voltairine de Cleyre
Voltairine de Cleyre foi uma das escritoras anarquistas mais prolíficas de seu tempo. Educada num convento católico, por insistência de seu pai se fez freira e lá viveu durante 4 anos.
O tempo que passou enclausurada naquele convento desenvolveu nela o convencimento de que as religiões se fundamentavam na repressão. Enquanto estava ali escreveu:"vi os intelectos mais brilhantes, intelectos que poderiam ter-se convertido em reluzentes estrelas das galáxias do talento, submetidas sob o peso das correntes, constantemente esquecidas e menosprezadas, a se perder..".
Aos 19 anos deixou o convento convertida numa atéia convicta.
Duas experiências marcaram durante a juventude sua personalidade: um discurso do advogado Clarence Darrow sobre o socialismo, que supôs seu primeiro encontro ante a problemática operária e a execução dos anarquistas de Chicago, acusados do bombardeio de Haymarket em 1886. Como para muitas pessoas de sua geração, a injustiça de Haymarket supôs a consolidação de seu anarquismo.
Teve maior talento literário do que qualquer outro anarquista norte-americano. Max Nettlau, historiador do movimento anarquista a descreveu como "a pérola da anarquia". A natureza inteira de Voltairine era a de uma asceta. Emma Goldman escreveu "sua aproximação à vida e aos ideais era a dos santos do velho testamento que castigavam seus corpos e torturavam sua alma pela glória de deus". Mas ela não tinha nada de religiosa.
Com o passar dos anos, evoluiu do anarquismo não-violento, que defendia a ação direta, próximo ao sindicalismo revolucionário da International Workers of the World, à defesa da violência quando “em determinados momentos históricos, os atos de violência eram o único meio de oposição à exploração e à tirania".
De Cleyre confiava na classe operária americana. Como recorda Georgakas “ela sempre se esforçou por dirigir-se à classe operária e criticou os anarquistas que, como Emma Goldman, dirigiam-se aos intelectuais e às classes burguesas".
Em 1910, em Nova York, durante um comício, ela fechou a cara diante de “respeitáveis salões” cheio de “gente respeitável”.
“Parece-me absolutamente horrível“ -escrevia ela- “julgo que o anarquismo se converteu num capricho para os intelectuais”. Na revista Mother Earth de Goldman declarava: “camaradas, caminhamos numa direção ... Nossa tarefa deve estar sempre entre os pobres, os abandonados, os homens e as mulheres que realizam o duro e brutal trabalho do mundo.''
Sua vida pessoal foi trágica. Ainda na juventude, seu grande amor se suicidou. De uma futura relação teve um filho, mas quando recusou viver com o pai da criança, se separou e não foi até 17 anos mais tarde, que poderia voltar a ver o filho. Outra desgraça lhe ocorreu em 1902, quando um estudante ciumento deu-lhe um tiro. “Apesar de que se recuperou” -escreveu Georgakas- “sua saúde se viu seriamente afetada. Conseqüentemente com seu caráter, recusou apresentar culpa contra seu agressor recomendando que este fora tratado num sanatório mental e não numa prisão”.
Entre 1889 e 1910 viveu na Filadélfia, entre as comunidades de imigrantes judeus pobres, que se converteriam posteriormente no principal distrito eleitoral anarquista dos EUA. Dava aulas de inglês e música e também aprendeu a falar e a escrever o Yiddish. Em 1912, quando estava no momento mais bem-sucedido como escritora e oradora, adoeceu, morrendo em Chicago em 12 de junho. Foi enterrada no cemitério de Waldheim em Chicago, junto aos túmulos dos anarquistas de Haymarket, cuja injustiça tinha inspirado sua vida.
Por desgraça, logo seu trabalho foi esquecido e seus textos deixaram de ser publicados e escritos "Ela foi como um breve cometa no firmamento anarquista”, segundo Avrich, “que logo foi esquecida por todos exceto por um círculo de amizades cujo amor e devoção persistiram muito depois de sua morte.”
Tiveram de passar mais de 50 anos para que seus escritos fossem resgatados, coincidindo precisamente com os movimentos feministas. "De qualquer jeito- escreveu Georgakas- o que dela mais se destaca é a maneira tão comprometida em que conduziu sua vida". Só um pouco antes de sua morte, Voltairine fez-se um elogio: "Morri como vivi, como um espírito livre, uma anarquista, sem dever nenhuma lealdade às leis, nem às terrenas, nem às divinas".
http://voltairine.org/
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