terça-feira, 21 de julho de 2009

Maria Lacerda de Moura - Artigo


Maria Lacerda de Moura, nascida em 1887, foi uma das primeiras educadoras de expressão a nível nacional. Anarquista, dominada pelo pensamento social e pelas idéias anticlericais, fundou a Liga Contra o Analfabetismo. Adotou a pedagogia libertária de Guardia . Em jornais como “A Plebe” deu voz, através dos seus artigos, à sua luta, tendo sido também ativa conferencista. Sua atividade, seu gosto pela polêmica, pelo enfrentamento, sua militância e os seus temas “educação, direitos da mulher, amor livre, combate ao fascismo e antimilitarismo” tornaram-na uma figura de ponta nacional.Esta educadora e militante anarquista faleceu em 1945.Infelizmente, Maria Lacerda de Moura é praticamente desconhecida no Brasil.Suas obras diversas estão se desfazendo esquecidas, nos papéis amarelados e quebradiços dos seus livros antigos, em que trata de temas ainda atuais..


Artigo de M L de Moura - A Plebe 1933
“O sol caminha para a constelação do aquario:
”Nem governos nem sacerdotes...
Duas formulas de ética abrangem todos os problemas humanos. E quando a humanidade as realizar, terá encontrado a chave da palavra perdida e o caminho do paraíso terrestre.Mas, só no dia em que os homens, em vez de querer dominar os outros, sentirem que teem de dominar a si mesmos – porque o inimigo está dentro e não fóra de nós...A primeira fórmula de ética vem da sabedoria antiga, do Templo de Delfos. A sabedoria moderna acrescentou-lhe um poema de beleza e harmonia:“Conhece-te a ti mesmo” – “para aprenderes a amar”.
A segunda é consequencia da primeira:“Unir ao individualismo dos espíritos o comunismo das mãos” – liberdade e auxilio mutuo. Pensamento livre, livre conciencia e trabalho manual para todos.E’ para a realização dessas duas fórmulas de ética que a humanidade caminha no meio do desmoronamento fragoroso da civilização de partidos autoritarios e ambições desenfreadas de poder e riqueza, no meio da queda caótica de um mundo envilecido de crimes bárbaros e de erros sanguinários. E ha de caminhar, apesar do desencantamento das paixões, no despertar dos instintos de animalidade baixa e na cultura sistematica da Ignorância das massas, escravizadas no servilismo e na domesticidade dos aplausos incondicionais a todos os donos e déspotas do genero humano.De novo o homem se sente, petrificado na sua incociencia, deante da esfinge simbolica:“Decifra-me ou eu te devóro...”Quem será capaz de prevêr o caminho que vae tomar a sociedade – nesse cáos de confusão, bestialidade, servilismo e ignorancia?Mas, os problemas sem solução, solucionam-se de surprésa.Por sobre as nossas cabeças pairam as flamas das “idéias forças”. Não as vemos, mas, não é menos verdade que todas as crises humanas teem sido resolvidas – apesar dos homens – através de energias latentes, canalizando – sempre para uma evolução mais alta, individual, e uma conciencia mais brilhante – os destinos dos seres colocados, como pontos de luz, na vanguarda dos povos, no mundo dos sonhos de fraternismo, no ciclo intelectual dos forjadores do porvir.Acima de nós mesmo, acima de todos os despotismos, acima de todas as torturas – ha uma força latente no homem – que o conduz a mais altos destinos, através do ideal de evolução e perfétibilidade.E’ essa chama sagrada que perpetuou o espírito novo da raça judaica nesse povo de heróes que ressurgiu das fogueiras de todas as Inquisições, que se libertou da crueldade de todos os Torquemadas da política e da religião – para legar ao mundo – Freud e Einstein – os dois mais altos expoentes do pensamento cientifico moderno.Havemos de decifrar o segredo simbólico da Esfinge.E, um dia, todos os homens e mulheres da terra, sem distinção de raça, de casta, de côr, de sexo ou de nacionalidade, serão irmãos no auxilio mutuo e no respeito mutuo á dignidade da conciencia livre – para mais alta evolução, através do tempo e para além do espaço...Só nesse dia, só no dia da festa da realização interior de cada ser humano, só no dia da consagração do culto á Liberdade do semelhante (porque, hoje, todos sabem reivindicar a sua Liberdade, mas pisando por sobre a liberdade do que está mais próximo...) só no dia em que cada sêr realizado sentir e gozar a alegria no coração dos outros sêres, na comunhão dos sonhos e do labôr, só nesse dia saberemos cantar a Paz e a Liberdade, e, por sobre as ruínas bárbaras dos troféus do direito da força – plantaremos a bandeira universal do Direito Humano.





Michele

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